Pecuária

Como garantir o bem-estar animal em bovinos de corte

11 abril 2022

O bem-estar em bovinos depende de uma série de estratégias associadas, incluindo um programa de vacinação de gado adequado

O bem-estar animal em bovinos de corte é um assunto relevante não somente pela sua importância para o gado, seres sencientes, como também pela influência na qualidade do produto final. Animais criados sob condições estressantes têm elevação do nível de cortisol plasmático e podem apresentar comportamentos anormais ou estereotipados, o que impacta diretamente em prejuízos zootécnicos. Por isso, é extremamente importante executar atividades que busquem atender os princípios do bem-estar dos bovinos. A fim de conhecer melhor algumas estratégias fundamentais para atingir esse objetivo, conversamos com o mestre e doutor em Zootecnia Marcelo Rosa. Confira a seguir!

Para garantir o bem-estar animal, é importante conhecer as características biológicas dos bovinos

Antes de estabelecermos quais são os principais cuidados para atingir o bem-estar em bovinos, Marcelo Rosa afirma que a pessoa que irá conduzir as atividades do gado deve conhecer a biologia da espécie e seus processos de aprendizagem. “O colaborador deve ter conhecimentos sobre capacidade sensorial e perceptiva (visão, olfato, audição, paladar e tato), comportamento social, alimentar, reprodutivo e termorregulatório para entender suas necessidades. A forma que ele se relaciona com o animal é altamente correlacionada com suas atitudes em relação à espécie trabalhada e sua personalidade”, explica o especialista.

Nutrição bovina adequada e acesso à água fresca e limpa são fundamentais

Um dos princípios básicos para garantir o bem-estar animal do gado é fornecer uma nutrição adequada, que seja fornecida em quantidade suficiente para manter os animais saudáveis de acordo com a idade e a espécie. Além disso, a disponibilidade de alimentos nutritivos deve ser de fácil acesso e o planejamento de dietas para fins de engorda deve ser feito cuidadosamente de acordo com o estágio de produção que o animal se encontra. 

Em relação aos cuidados com a nutrição na fase de cria, Marcelo recomenda: “Bezerros devem ter seu parto acompanhado para assegurar a ingestão de colostro, no máximo, em até 6 horas de vida, promovendo adequada imunidade passiva. Para que o colostro ingerido seja de qualidade, as matrizes, nos últimos dois meses que antecedem o parto, devem receber água de boa qualidade, forrageira com bom valor nutricional, sal mineralizado etc.”

O contínuo acesso à água limpa e fresca também deve ser priorizado nas instalações, exceto quando o médico veterinário responsável fornecer alguma orientação distinta. Por isso, é importante manter os equipamentos de fornecimento de água limpos e em caso de uso de sistemas automatizados, monitorá-los diariamente.

Bem-estar na bovinocultura depende de condições ambientais adequadas

Outro pilar importante para garantir o bem-estar na bovinocultura de corte está relacionado às condições do ambiente em que os animais estão inseridos. O ambiente deve ser projetado com a adoção de medidas para prevenir o estresse térmico em bovinos e o desconforto físico,  como a utilização de ventiladores e de sombreamento artificial. Do mesmo modo, outros fatores relacionados à ambiência que incluem a preocupação com a qualidade do ar, a manutenção de abrigos parcialmente cobertos e de espaço disponível para que o gado repouse colaboram para manter o bem-estar animal.

Manejo racional de bovinos de corte

Quanto às estratégias de manejo para proporcionar o adequado bem-estar animal, o doutor em zootecnia aconselha “o uso dos conceitos de distância de fuga e ponto de equilíbrio para a expressão da interação positiva humano-animal ao promover atividades de rotina diárias: deslocamentos dos animais, embarque, desembarque, reprodução (inseminação artificial e demais biotecnologias reprodutivas) e acompanhamento de parto”. 

De forma resumida, a zona de fuga é o espaço que o animal estabelece para escapar do contato humano caso ele se sinta ameaçado. E por isso é tão importante respeitar esse limite para que o manejo seja realizado com eficiência e sem estresse para o bovino. 

Além disso, Marcelo destaca outras estratégias de manejo que podem ser utilizadas como a disponibilização de suplemento nutricional imediatamente após práticas realizadas no brete/ tronco, pois isso permitirá ao animal o registro da ação positiva ao passar por uma prática que naturalmente pode ser aversiva, e o uso de bandeiras para representar o prolongamento do corpo humano, facilitando o deslocamento do animal ao empregar a distância de fuga e ponto de equilíbrio. 

Bem-estar em bovinos está ligado à saúde do rebanho

Outro aspecto de bem-estar para os bovinos de corte é a saúde do rebanho. É fundamental que haja um programa de vacinação em gado que seja adequado para prevenir doenças como a rinotraqueíte bovina infecciosa e a prevenção de infestações parasitárias externas e internas.

Esses protocolos devem estar em dia e para isso é necessário um monitoramento constante da saúde bovina para identificar sinais clínicos que possam indicar alguma patologia e, dessa forma, prevenir que a biossegurança do gado seja comprometida. Como a diminuição da performance produtiva é uma consequência das doenças em bovinos, também é importante que o desempenho do rebanho seja supervisionado.

Portanto, a associação de diversas estratégias é fundamental para garantir o bem-estar animal no confinamento de gado de corte. Com a crescente demanda do mercado por uma carne oriunda de um sistema de produção com qualidade ética e de alta qualidade, faz-se necessária a priorização dessas práticas na bovinocultura.

* Marcelo Simão da Rosa é técnico em Agropecuária pela Escola Agrotécnica Federal de Alegre-ES e especialista em Produção de Ruminantes pela Universidade Federal de Lavras. Também é mestre e doutor em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

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