Como efetuar a descorna em bovinos gerando menos dor e estresse para o bezerro
27 junho 2022
A descorna em bovinos, técnica que consiste na retirada dos cornos, é muito utilizada, pois oferece diversas vantagens aos sistemas de produção, como manejo facilitado, redução de acidentes entre os animais e de riscos às pessoas que conduzem o gado. De acordo com um artigo elaborado pela Divisão de Bem-Estar Animal da American Veterinary Medical Association (AVMA), os chifres são a principal causa de perda de carcaça devido a hematomas, e o corte associado a esses casos é aproximadamente o dobro do que ocorre em carcaças de bovinos sem chifres.
Apesar desses benefícios, a descorna inevitavelmente causa dor e estresse ao bovino, o que torna essencial a adoção de medidas para minimizar estados de comportamento e fisiológicos alterados que indicam prejuízos ao bem-estar animal, como balanços de cabeça, movimentos de orelha e aumento de cortisol plasmático.
Anestesia para descorna em bovinos e uso de analgésicos são eficientes para diminuir a dor e o estresse animal
Segundo uma pesquisa divulgada pelo Journal of Dairy Science, os tipos de descorna em bovinos menos invasivos são aqueles realizados por cauterização química ou por calor. Ainda assim, a publicação ressalta que, por serem procedimentos dolorosos, órgãos veterinários e governamentais em todo o mundo recomendam o uso de analgésicos e anestésicos antes e após a descorna.
Esse mesmo artigo faz referência a um estudo em que a xilazina, agonista da classe α₂ do receptor adrenérgico, foi eficaz na redução dos comportamentos de esfregar e balançar a cabeça em bezerros descornados com soda cáustica. Mas é feita uma ressalva: o uso desse fármaco deve estar associado à anestesia para descorna em bovinos, caso contrário, a xilazina será insuficiente para o controle da dor após o procedimento.
A associação de analgésicos e anestésicos locais também é recomendada no documento da AVMA citado anteriormente. Entre as práticas indicadas para minimizar a resposta ao estresse durante a descorna está a associação de cetamina e xilazina, que pode aumentar a cooperação do animal tanto para a retirada dos cornos quanto para a castração bovina. Além disso, a AVMA aponta que a administração de anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) produz analgesia pós-operatória prolongada, sendo essa outra medida útil para amenizar a dor e o estresse do bezerro.
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Cauterização da ferida após a descorna em bovinos pode reduzir o limiar de dor e cortisol plasmático
Ainda com base nas recomendações da AVMA, uma boa estratégia a ser implementada para minimizar o estresse bovino após a descorna é a cauterização da ferida. Segundo a Associação, esse método aboliu a resposta do cortisol por 24 horas em bezerros de 3 a 4 meses de idade e não gerou nenhuma complicação durante a cicatrização da ferida. Além disso, a cauterização quando associada à anestesia local diminuiu a resposta do cortisol por 9 horas no pós-operatório, aponta o documento.
A dor aguda associada à remoção dos cornos também pode ser minimizada com a cauterização da ferida, segundo um estudo divulgado no The Veterinary Journal. Isso porque alguns nociceptores de dor são aparentemente destruídos por esse método, o que pode contribuir para a diminuição do limiar da dor uma vez que é cessado o efeito anestésico.
Em síntese, por mais que a descorna bovina seja importante para garantir a segurança dos animais e das pessoas responsáveis pelas atividades na fazenda, é fundamental que os efeitos de dor e estresse decorrentes do procedimento sejam minimizados. Para tal, o uso de analgésicos, anestésicos, anti-inflamatórios e a cauterização da ferida são recomendados para diminuir possíveis prejuízos ao bem-estar animal em bovinos.