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Síndrome de má absorção em aves domésticas: Diagnóstico e tratamento

A síndrome de má absorção em aves domésticas é uma doença complexa e multifatorial que causa distúrbios no sistema digestivo, impedindo a absorção correta de nutrientes no intestino. Como consequência, as aves doentes apresentam crescimento atrofiado. 

A síndrome de má absorção aviária afeta principalmente os frangos de corte em granjas avícolas em todo o mundo, causando um grande impacto econômico. Em particular, a síndrome reduz a produtividade, o que se reflete na redução da produção de carne, no comprometimento do sistema imunológico e no aumento das taxas de mortalidade (1,2).

As condições de criação, os fatores ambientais e os patógenos (bactérias, astrovírus, parvovírus, reovírus e rotavírus) foram relacionados como possíveis agentes causadores da síndrome de má absorção em aves. Entretanto, os vírus podem ser encontrados tanto em aves saudáveis quanto em aves doentes, o que dificulta o estabelecimento de relações causais diretas (2).

Continue lendo para saber mais sobre os sintomas associados à doença, as técnicas de diagnóstico disponíveis, os possíveis tratamentos e as medidas preventivas.

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Quadro clínico

A síndrome de má absorção em aves domésticas causa uma série de manifestações clínicas que levam a uma deterioração geral da saúde, aumentando a morbidade e a mortalidade. A síndrome afeta principalmente as galinhas durante as três primeiras semanas de vida. Alguns dos sintomas mais importantes são (3-4):

  • distúrbios gastrointestinais acompanhados de lesões entéricas e inflamação intestinal que levam a uma redução da superfície de absorção intestinal, o que dificulta a absorção de nutrientes;
  • diarreia crônica, caracterizada por fezes aquosas e com mau cheiro, que contribui para a perda de nutrientes essenciais, agravando a desnutrição característica dessa condição;
  • falta de apetite e diminuição da ingestão de alimentos;
  • sistema imunológico enfraquecido, o que facilita infecções secundárias, geralmente levando a distúrbios respiratórios, incluindo dispneia, tosse e secreção nasal;
  • crescimento atrofiado ou nanismo, com desenvolvimento anormal das penas.

A síndrome de má absorção em aves domésticas reduz a produtividade, o que se reflete na redução da produção de carne, no comprometimento do sistema imunológico e no aumento das taxas de mortalidade.

Diagnóstico

O diagnóstico da síndrome de má absorção em aves domésticas requer uma abordagem abrangente que combine diferentes métodos e técnicas para obter um resultado preciso. Inicialmente, é realizado um exame físico para identificar os sinais clínicos característicos da síndrome. 

Os testes laboratoriais incluem o uso de tecnologias de sequenciamento de nova geração, RT-PCR e PCR multiplex, para tentar detectar possíveis agentes etiológicos na região geográfica onde há suspeita de infecção. Testes sorológicos também podem ser usados para detectar a presença de anticorpos específicos para cepas de vírus associadas à doença. 

Recomenda-se o exame post-mortem das aves afetadas. Isso pode ser feito por meio da inspeção dos órgãos internos para procurar lesões características da doença e confirmar o diagnóstico (5-6). 

Tratamentos e métodos de prevenção

Há vários tratamentos e terapias disponíveis para a síndrome de má absorção em aves, incluindo (7):

  • uso de ração de fácil digestão junto com enzimas digestivas para facilitar a quebra dos nutrientes no sistema digestivo do animal;
  • administração de suplementos nutricionais para corrigir deficiências e promover melhor absorção de nutrientes;
  • tratar infecções secundárias;
  • terapias de suporte, incluindo a administração de eletrólitos e fluidos, em casos graves de desidratação.
  • uso de vacinas virais para agentes como o Reovirus em reprodutores.  

Além disso, para evitar a disseminação de infecções silenciosas em granjas de aves, recomenda-se a implementação de medidas para aumentar a biossegurança. Essas medidas incluem o controle do acesso às instalações da granja, a desinfecção de equipamentos e o monitoramento da saúde do lote, o que pode reduzir o risco de infecções virais (8). 

A importância dos programas de vacinação deve ser enfatizada, pois a imunidade materna, derivada da vacinação das galinhas reprodutoras, é considerada a primeira linha de defesa contra possíveis infecções virais que causam a síndrome nos pintinhos. Diversos estudos demonstraram que a vacinação de galinhas reprodutoras com cepas inativadas de reovírus beneficia o crescimento da progênie, evita o desenvolvimento da síndrome e aumenta o desempenho e a lucratividade dos frangos de corte em áreas onde a infecção por reovírus é endêmica (5,8).

Referências

1. Rebel JMJ, Balk FRM, Post J, Hemert SV, Zekarias B, Stockhofe N. Malabsorption syndrome in broilers. World’s Poultry Science Journal. 2006;62(1):17–30. 

2. Lima DA, Cibulski SP, Tochetto C, Varela APM, Finkler F, Teixeira TF, et al. The intestinal virome of malabsorption syndrome-affected and unaffected broilers through shotgun metagenomics. Virus Research. 2019;261:9–20. 

3. de Oliveira LB, Stanton JB, Zhang J, Brown C, Butt SL, Dimitrov K, et al. Runting and stunting syndrome in broiler chickens: Histopathology and association with a novel picornavirus. Veterinary Pathology. 2021;58(1):123–35. 

4. Cloft SE, Kinstler SR, Reno KE, Sellers HS, Franca M, Ecco R, et al. Runting stunting syndrome in broiler chickens is associated with altered intestinal stem cell morphology and gene expression. Avian Diseases. 2022;66(1):85–94. 

5. Kim HR, Kwon YK, Jang I, Bae YC. Viral metagenomic analysis of chickens with runting-stunting syndrome in the Republic of Korea. Journal of Virology. 2020 Apr 15;17:53. 

6. Devaney R, Trudgett J, Trudgett A, Meharg C, Smyth V. A metagenomic comparison of endemic viruses from broiler chickens with runting-stunting syndrome and from normal birds. Avian Pathology. 2016 Oct 4;45(6):616–29. 

7. Wernicki A, Nowaczek A, Urban-Chmiel R. Bacteriophage therapy to combat bacterial infections in poultry. Journal of Virology. 2017 Sep 16;14(1):179. 8. Awandkar SP, Moregaonkar SD, Manwar SJ, Kamdi BP, Kulkarni MB. Comparative investigations of infectious runting and stunting syndrome in vaccinated breeder chicks by inactivated reovirus and chicks from non-vaccinated breeders. Iranian Journal of Veterinary Research. 2017;18(1):6–12.

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