Streptococcus agalactiae grupo B: conheça os principais sorotipos que afetam as tilápias
12 janeiro 2022
Dados da Food and Agriculture Organization (FAO, 2020) demonstram que a aquicultura já é responsável por mais de 50% dos peixes destinados ao consumo humano em todo o mundo. No entanto, fatores como surtos de doenças infecciosas podem afetar negativamente esse desenvolvimento. O gênero de bactérias Streptococcus, por exemplo, ataca o sistema central dos peixes, especialmente das tilápias, e está associado a altos índices de mortalidade, sendo considerado um dos principais desafios por especialistas do ramo.
Esse gênero abrange uma vasta gama de espécies patogênicas, dentre as quais o Streptococcus agalactiae (grupo B) se destaca por apresentar o maior número de casos observados. A seguir, entenda melhor como o agente se manifesta e saiba quais são os seus sorotipos.
O que é Streptococcus agalactiae?
O gênero Streptococcus pertence à família Streptococcaceae e é dividido em diferentes espécies e subespécies bacterianas. Entre as principais espécies relacionadas a casos de mortalidade na piscicultura, estão: Streptococcus agalactiae, Streptococcus iniae, Streptococcus parauberis, Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus phocae e Streptococcus ictaluri.
Em 1933, Lancefield classifica os Streptococcus em grupos sorológicos distintos, com base na presença de polissacarídeos capsulares. A bactéria Streptococcus agalactiae é considerada a única espécie do grupo B.
Em tilápias infectadas por S. agalactiae, as manifestações patológicas mais comumente observadas são pericardite, endocardite, meningite e septicemia. Utiliza-se o termo genérico “estreptococose” para designar as doenças septicêmicas de etiologia bacteriana causadas por esse gênero de bactérias.
Streptococcus do grupo B: conheça os sorotipos da S. agalactiae
A Streptococcus agalactiae (ou Streptococcus do grupo B) possui 3 sorotipos diferentes, como instrui a médica-veterinária e zootecnista Alim Desiree Castillo. Segundo a especialista, os sorotipos são: Ia, Ib e III.
Ela alerta que “o quadro clínico que ocorre com qualquer um deles é semelhante e, portanto, não é possível identificar a olho nu, sem o auxílio de exames laboratoriais, qual é o sorotipo que está causando as mortalidades (em peixes)”.
“Sabe-se que o sorotipo Ib é de manifestação crônica, enquanto os sorotipos Ia e III costumam se manifestar mais agudamente no verão ou quando as temperaturas aumentam. Porém, é necessário o uso de técnicas laboratoriais específicas para determinar qual sorotipo da S. agalactiae está presente na produção”, esclarece a profissional.
Como peixes contraem Streptococcus agalactiae?
A doença causada por Streptococcus agalactiae pode ser transmitida aos peixes de forma direta ou indireta. A transmissão direta acontece por meio do contato entre um animal sadio e outro infectado. Já a transmissão indireta pode ocorrer quando a bactéria está presente em grande quantidade e alta prevalência no ambiente de cultivo, contaminando, assim, os animais.
Streptococcus agalactiae: tratamento não é efetivo e vacinação é a estratégia ideal
O tratamento pós-infecção por Streptococcus agalactiae nem sempre apresenta-se efetivo e viável atraves do uso de antimicrobianos. Por isso, as principais medidas de controle da doença bacteriana são feitas por meio, principalmente, da utilização de métodos imunoprofiláticos.
“Na escolha do programa de vacinação a ser aplicado, devem ser realizados exames laboratoriais, por exemplo, a técnica de PCR, para nos ajudar a determinar quais serotipos estão presentes na produção. Uma vez determinado, é possível escolher qual programa de vacinação é o mais completo para proteger os peixes da melhor forma”, orienta a médica-veterinária e zootecnista Alim Desiree Castillo.
Em geral, a vacina utilizada para combater a Streptococcus agalactiae é produzida a partir da bactéria inativada. Além de provocar boa resposta imune, essa alternativa costuma oferecer benefícios econômicos. Independentemente do programa vacinal escolhido, é fundamental que os peixes estejam saudáveis para serem submetidos ao programa de vacinação.
“Recomenda-se ainda fazer dieta ou jejum dos peixes durante as 24 horas anteriores, evitar manuseio estressante antes, durante e após a vacinação e sempre usar anestesia durante o processo para evitar estresse”, completa a especialista.
Podemos concluir que a melhor forma de evitar a contaminação por Streptococcus do grupo B é através de um programa vacinal que tenha como base os serotipos presentes na produção. Mas como os serotipos Ia, Ib e III desencadeiam quadros clínicos semelhantes, é fundamental que sejam realizados exames laboratoriais para determinar qual sorotipo está causando as mortalidades.
Além disso, o médico-veterinário responsável por gerenciar o surto da doença deve estar ciente de como funciona a vacina de estreptococose em peixes e orientar os produtores a implementarem medidas de biossegurança no sistema de criação. Essa associação de medidas preventivas configura o caminho mais indicado para evitar os impactos econômicos provocados pela infecção bacteriana.
* Alim Desiree Castillo é formada em Medicina Veterinária e em Zootecnia pela Universidade Autônoma do México.